Produtor do Estado de São Paulo perde cerca de 60 litros por dia com a infestação do inseto.
O acúmulo de fezes de herbívoros e a exposição de matéria vegetal orgânica são as principais razões para a proliferação das Stamoxys calcitrans. Mas é na pecuária de leite e de corte que praga, conhecida como “mosca dos estábulos” – daí o nome – causa os maiores prejuízos. Há quase 90 dias, o pecuarista Sérgio Argele, do município de Tambaú, a 270 km de São Paulo, tem a sua produção de leite reduzida a quase 60 litros diariamente por causa do inseto. A propriedade de Argele faz fronteira com uma outra, de laranja, onde começou o foco.
“Está prejudicando a produção de leite, o gado está emagrecendo, porque só come à noite. Tive que vender parte do gado (de corte). Mata até o pasto, de tanto que (o gado) sapateia”, afirma o pecuarista. As perdas do pecuarista vão mais além. Só com medicamentos e viagens em busca de soluções para o problema, Argele calcula que já teve gastos de aproximadamente R$ 5 mil. “Isso, sem contar a perda de cria. O veterinário disse que as vacas vão demorar para entrar no cio por conta do estresse”.
O pecuarista já recebeu visitas de veterinários e da defesa agropecuária, além de receber doações de produtos de empresas para combater a praga, mas garante que nada surtiu efeito. “O pessoal do Ouro Fino deixou produtos aqui, estou fazendo pulverização no rebanho, mas nada está adiantando pra mim”, diz.
A infestação das moscas de estábulos em São Paulo foi constatada em 2010, nos canaviais, devido ao acúmulo da palha da cana. “Normalmente, a gente observa a mosca no canavial, quando está mal manejado, que deixam a palha para adubar e joga o excesso da vinhaça. Isso está relacionado com o crescimento da mosca porque ela, preferencialmente, bota ovos em material vegetal em decomposição”, explica o professor da Faculdade de Medicina Veterinária da Unesp, Fabiano Antônio Cadioli.
Segundo ele, há estudos que demonstram perdas de até 60% na produção da pecuária leiteira. “Em alguns locais no Brasil, o surto foi tão alto que foi preciso mudar o horário da ordenha”.
Além dos impactos diretos, a mosca ainda pode estar vinculada à transmissão de doenças no gado. Em artigo recentemente publicado na Revista Brasileira de Parasitologia (edição abril-julho 2012), intitulado “Primeiro relato de surto por Trypanosoma vivax em vacas leiteiras no estado de São Paulo”, o pesquisador descreve a possibilidade da mosca dos estábulos ter contribuído para a dispersão do parasita onde nunca havia sido observado anteriormente. “O controle da mosca é importante para evitar a contaminação de outras doenças”, alerta.
Para combater a mosca, apenas a pulverização com produtos químicos não é efetiva. “Só fazer isso (pulverizar) não resolve o problema. O que resolve é retirar os dejetos, principalmente fezes dos animais herbívoros, levar para o lugar de compostagem, eliminar restos de alimento e qualquer acúmulo de material orgânico de origem vegetal”, recomenda Cadioli.
A Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo ainda não tem dados sobre os prejuízos causados pelo inseto ou informações sobre as regiões com maiores incidência.
Fonte: Globo Rural On-line
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