No Rio Grande do Sul, produtores de leite do estão vendendo animais e equipamentos, desestimulados pelos elevados custos da atividade, com o objetivo de investir no plantio de soja na próxima safra de verão. Eles buscam os lucros proporcionados pelos altos preços da oleaginosa.
“Há uma debandada do leite para a soja em função dos custos”, relatou Vladimir di Pietro, empresário que atua na região do município de Cruz Alta, noroeste gaúcho, comprando e vendendo plantéis de gado leiteiro.
“É praticamente a oferta de um tambo por dia”, disse ele à Reuters, referindo-se à venda de todos animais e equipamentos de ordenha.
A soja vem registrando recordes no mercado interno e também na bolsa de Chicago, onde atingiu a máxima histórica nesta quinta-feira, em meio a uma seca nos EUA que reduziu a estimativa de safra catapultou as cotações nas últimas semanas.
Já o preço do leite no país tem se mantido estável nos últimos meses, enquanto os produtores reclamam da elevação dos custos com ração (à base de soja e milho) e das dificuldades de contratar mão-de-obra.
Di Pietro conta que na região onde trabalha ocorre um movimento de concentração dos rebanhos. Quando os negócios acontecem –e nem sempre há compradores interessados–, em geral são pequenos produtores que repassam os animais para grandes fazendeiros, que conseguem se manter na atividade devido ao ganho de escala.
O empresário relata que o preço normal de uma vaca da raça holandesa é de 3 mil reais. Atualmente, há produtores oferecendo animais de 1.500 reais.
“Há um desestímulo em função da queda de preço (pago pelo leite) e de importações massivas”, disse Ernesto Krug, presidente da Associação Gaúcha de Laticinistas (AGL), que reúne desde produtores até indústrias do setor.
“O desestímulo que se causa hoje, leva três anos para ser retomado. Alguns podem voltar e outros não voltam. É uma preocupação grande”, afirmou Krug, referindo-se à migração de produtores de leite para o plantio de grãos.
Segundo a AGL, há cerca de 121 mil produtores de leite no Rio Grande do Sul, mas não há uma estimativa de quantos estão abandonando a atividade.
A entidade calcula que a capacidade instalada no Estado é para processamento de 17 milhões de litros por dia, mas a captação é de pouco mais da metade disso, 9,5 milhões de litros/dia.
O Rio Grande do Sul representa 12% da produção brasileira de leite, atrás apenas de Minas Gerais.
Estimativa divulgada esta semana pela Emater, órgão de assistência técnica do Rio Grande do Sul, mostra que a área de soja deve aumentar 6,2 por cento na safra de verão 2012/13, ante a anterior, ou 258 mil hectares. Deste total, 150 mil hectares serão expandidos sobre áreas de pastagem ou de arroz.
Para a entidade, a maior preocupação é a conversão de pastos naturais do pampa gaúcho, no sul do Estado, em lavouras de soja.
“Não é a vocação natural daquele bioma”, disse Gervásio Paulus, diretor técnico da Emater/RS.
Ele explica que na região mais próximas à fronteira com o Uruguai há muitas fazendas arrendadas, por um período médio de quatro anos.
“Preocupa, porque há uma menor preocupação com o aspecto da conservação de solo.”
A respeito da migração de pecuaristas para a soja no noroeste do Estado, Paulus acredita que sejam casos isolados.
“Ainda não identificamos isso como um fenômeno mais amplo… Mas quando ele (produtor) se desfaz se todo o plantel, de fato, é mais complicado para retornar à atividade depois.”
Fonte: Rural Centro
Adaptação: Revista Agropecuária
0 comentários:
Postar um comentário