O Brasil pode se beneficiar da maior oferta de gado neste e no próximo ano e elevar as exportações de carne bovina, mas enfrentará o desafio do aumento do custo de produção em relação a outros países produtores, como os Estados Unidos. A avaliação é de David Nelson, diretor de estratégia global da área de pesquisa e consultoria em alimentos e agribusiness
do Rabobank, durante o Congresso Mundial da Carne em Paris.
"O custo do trabalho está aumentando no Brasil porque a economia está crescendo. Nos EUA, não há criação de empregos, por isso os salários estão estagnados",afirmou.Segundo ele,considerando uma perspectiva de competitividade internacional na exportação, o aumento dos salários representa um desafio para o Brasil,mas as empresas brasileiras que elevam os vencimentos também ajudam a impulsionar o consumo doméstico . De acordo com dados apresentados por Nelson , na última década o custo do trabalho aumentou 70% no Brasil e 350% na China, e ficou praticamente estável nos EUA.
A perspectiva de oferta maior de gado para abate no Brasil e menor nos EUA - devido a problemas climáticos em 2011 - é uma oportunidade para o país retomar as exportações, que já corresponderam a 30% da produção há cerca de cinco anos e hoje estão abaixo de 20%, observa Nelson. "A questão é quem vai pagar mais: o mercado doméstico ou o internacional", afirma, acrescentando que o comportamento do câmbio também é um fator importante.Elevar as exportações de carne bovina significa, para o Brasil, tirar vantagem de um mercado com preços mais altos, impulsionados pela menor oferta e também pela valorização dos grãos usados na ração animal. "A produção global de carnes é a mesma hoje que há seis anos, quando o PIB mundial cresceu; por isso os preços são mais altos", observou.
De acordo com Christophe Lafougère, diretor da Gira, consultoria europeia especializada em carnes e lácteos, nem os preços altos têm estimulado o aumento da produção de bovinos. Além disso, os preços nas diferentes regiões de produção têm convergido. "O que se percebe é que os países emergentes aumentaram o preço ao nível de EUA e Europa", disse no evento em Paris. Ele considera que o mercado de suínos, ainda influenciado por sistemas de cotas em China e Rússia, também deverá ver uma convergência dos preços.
Cenário europeu
De acordo com Nelson, o fim das cotas para a produção de leite no bloco a partir de 2015 deve gerar uma queda na produção de carne bovina, sobretudo em países do norte da Europa. A razão é que esses países devem optar pelo leite, que será mais lucrativo que o bovino. Haverá, ainda, uma redução nos subsídios por propriedade produtora de gado bovino, o que tende a impactar a oferta. Sem contar o aumento dos regulamentos em relação ao ambiente e bem-estar animal.
A perda da competitividade da indústria de carne não é a única preocupação na Europa atualmente. Especialistas dizem que a crise na zona do euro levou o consumidor a substituir proteínas mais caras, como a carne bovina, pelo frango, que é mais barato. Dados da Comissão Europeia apresentados pelo Rabobank mostram recuo em um período de 11 anos. Segundo o órgão, o consumo per capita de carne bovina saiu de 19,1 quilos, em 2000, para 15,8 quilos em 2011.
Jos Goebbels, vice-presidente da União Européia de Comércio de Gado e de Carne (UECBV, na sigla em francês), reconheceu uma transferência de demanda para o frango. E disse que o câmbio deverá definir o comportamento da compra, já que a Europa importa boa parte da carne bovina que consome.
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